O espaço/esfera público dos bairros criativos é marcado por múltiplas camadas justapostas,
nem sempre claras ou visíveis para aqueles que nelas se movem quotidianamente. São
espaços de liminaridade e de expressão e afirmação social, implicitamente marcados e lidos
de forma diferenciada pelos seus diversos utilizadores. São alvo de múltiplas codificações e
representações, social e culturalmente aproveitadas por quem neles actua. Qual o potencial
para a intervenção urbana e a prática artística no espaço público destes bairros? Qual a
especificidade destas apropriações no mundo contemporâneo? Como pensar uma cidade
apropriável e amigável para a intervenção artística? Como manter a vitalidade e a dinâmica
criativa nestes espaços públicos, sem cair na gentrificação e na turistificação?
Na sequência dos projectos anteriormente realizados pelo DINAMIA’CET-IUL no Bairro
Alto e em outros “bairros criativos”, pretende-se discutir neste evento as múltiplas camadas de
codificação que estão sempre presentes num bairro com estas características.
Um bairro cultural é constituído por múltiplas vivências e uma diversidade de quotidianos e de
identidades que se cruzam no dia a dia e constituem o tecido urbano e criativo do bairro, muitas
vezes sem se tocarem ou sequer ter consciência umas acerca das outras. Cada parte do bairro
(e mesmo cada altura do dia) são percepcionados de maneira diversa pelas pessoas que nele
circulam, que nele vivem e que dele se apropriam no seu quotidiano. A mesma rua ou a mesma
esquina têm significados diferentes e são entendidos, vividos e apreendidos de formas muito
diversas por diferentes pessoas, sendo portanto essas realidades (des)codificadas distintamente
por diferentes grupos sociais e diferentes subculturas.
É este o ponto de partida para o seminário / mesa-redonda e para o happening / intervenção
urbana realizados no âmbito deste evento. Promovendo um debate “informal” sobre as camadas
de codificação no bairro e os processos de liminaridade que nele se desenrolam, pretende-se discutir a questão da intervenção artística urbana na esfera pública, tendo por referência
o espaço dos bairros criativos e as lógicas de participação e de (re)produção da cidade
contemporânea.
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